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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Caso Algodões: Dois anos após a tragédia



Tragédia de Algodões completa dois anos Tragédia de Algodões completa dois anos
  hoje, era 27 de maio, ano 2009. O relógio marcava 16h10. Bilhões de litros d’água começavam a descer morro a baixo em uma onda de quase 10 metros viajando a uma velocidade impressionante de 80km/h. Onze povoados foram dizimados, 6 mil pessoas diretamente afetadas, nove mortos, uma criança desaparecida e mais de 30 mil animais mortos, levados pela onda que nasceu em Algodões I. Números impressionantes que resumem de forma fria a tragédia que deixou o Piauí e o Brasil ligados em Cocal. Era ‘Tragédia de Algodões’ que entraria para sempre para as páginas negras da história do nosso estado.
Nesta sexta-feira (27/05) a tragédia completa dois anos. As marcas deixadas pela onda devastadora formada após o rompimento da barragem de Algodões I aos poucos se apagaram do cenário de Cocal e Buriti dos Lopes. Mas na memória das vítimas, das famílias que perderam seus entes queridos, a dor ainda é viva e lateja no coração de cada um. Dois anos depois as vitimas amargam a dor de saber que o sofrimento poderia ter sido evitado, e ainda mais, sofrem com a falta de assistência por parte do poder público, considerado por muitos como os maiores culpados pela tragédia.
TRAGÉDIA ANUNCIADA
Projetada em 1994 e executada em 1995 pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), a obra custou cerca de R$ 51 milhões e visava perenizar as águas do rio Piranji para usá-la na irrigação, piscicultura, abastecimento das cidades vizinhas e acima de tudo, fazer o controle das cheias. O primeiro questionamento em relação à Algodões I apareceu ainda na fase de obras quando o Tribunal de Contas da União questionou o andamento das obras e multou o então presidente da antiga Comdepi (hoje Idepi). Mesmo assim em 2001 a barragem foi inaugurada na gestão do então governador do PMDB, Mão Santa. Com capacidade para 50 bilhões de litros d’água, o projeto foi feito pelo engenheiro Luiz Hernane de Carvalho da Universidade Federal do Ceará, mas a barragem nunca teve sua capacidade aproveitada por completo.

Há pelo menos um ano antes da tragédia, a Emgerpi admitiu que várias fissuras foram encontradas na barragem e sempre reparadas com camadas e camadas de cimento. O primeiro vazamento foi detectado em junho de 2008, e a partir daí as obras de reparos foram acendendo a dinamite que mais tarde estouraria. Em 2009, um projeto previa a reconstrução de parte da estruturara que mais tarde viria a romper. Projeto este que não foi executado.

Erro e despreparo tirou a vida de inocentes
CEDO DEMAIS PARA VOLTAR
As obras de reparos, de efeitos apenas paliativos, continuaram a ser executadas. Os problemas começaram a ficar mais sérios e por pelo menos três vezes as famílias da região próxima à barragem foram retiradas de suas casas e levadas a Buriti dos Lopes. Um dos alertas foi soado no dia 14 de maio, onde todas as famílias foram levadas para escolas e ginásios. Mas no dia 25 de maio o engenheiro Luis Hernane de Carvalho, consultor do governo do Estado, afastou todo e qualquer perigo em relação a um rompimento em Algodões I e liberou ao governador Wellington Dias a ordem de que as famílias poderiam voltar tranquilas para casa. Porém era cedo demais para retornar.

Mesmo sob risco da barragem romper, W. Dias mandou famílias voltarem
ALGODÕES I ‘ESTOURA’
Descrever a tarde de 27 de maio de 2009 a nós é tarefa das mais difíceis. Jamais o terror e o pânico vivido por todas aquelas famílias poderá ser descrito em palavras. Mas basta olhar bem fundo nos olhos de cada uma das vitimas, nos olhos das mães que perderam seus filhos, dos filhos que perderam os pais, ou simplesmente de quem viu o pouco que tinha sendo levado pelas águas em um dilúvio que nada teve de santo. Que veio para levar a esperança e a alegria de forma cruel e prematura.

Os povoados soterrados com a força das águas foram Angico Branco, Franco, Cruzinha, Boiba, Frecheira, Tabuleiro, Estreito, Gado Bravo, Dom Bosco, Boa Vista e Gameleira. Casas inteiras simplesmente desapareceram, cemitérios tiveram seus túmulos revirados, as árvores ficaram tortas, igrejas foram ao chão, escolas e postos de saúdes foram destruídos, estradas foram cortados, encostas desceram, animais foram soterrados e pessoas levadas pelas águas. Nove mortes foram confirmadas e até hoje uma criança continua desaparecida. O desastre ganha repercussão nacional e vira destaque nos principais jornais como o próprio Jornal Nacional e o Domingo Espetacular. O Nordeste, que passava por problemas em vários estados com as enchentes, se sensibilizou com a tragédia e enviou donativos para as vítimas. Teresina também sofria com as fortes chuvas, mas mesmo assim dividiu os donativos com as famílias atingidas pela onda da barragem.

HOMICÍDIO CULPOSO, IRRESPONSABILIDADE?
Dias após a tragédia, o Ministério Público ameaçou entrar com ação contra o governo do Estado por homicídio culposo por trata-se de uma tragédia anunciada. As famílias também ameaçaram processar o governo do Piauí. Com o clima de tragédia as famílias queriam logo enterrar os seus mortos, até mesmo porque alguns corpos já começavam a entrar em estado de putrefação. Vários enterros clandestinos, como o da pequena Maria Andreína, foram flagrados pelo 180graus que visitou o local da catástrofe dias depois. A prática, na época, ameaçava esconder os números de uma tragédia de proporções gigantescas.

Um dos enterros flagrados pelo 180graus (Arquivo)
CHUVA NÃO É A VILÃ DA HISTÓRIA
"Não houve, de modo algum, excesso de chuvas. Não podemos afirmar que o rompimento da barragem se deu em função das chuvas que atingiram a região. A vazão que chegou lá não foi nenhum acontecimento excepcional." As afirmações partiram do engenheiro civil Manoel Coelho Soares Filho, chefe do Departamento de Recursos Hídricos da UFPI. A informação contradizia totalmente o então governador Wellington Dias que pôs a culpa no mau tempo. Em uma de suas viagens à Cocal logo depois da tragédia W.Dias afirmou que o rompimento da barragem foi uma catástrofe que não tinha engenheiro e nem meteorologista nenhum que pudesse prever ou evitar.

180GRAUS VOLTA A COCAL E ENCONTRA FAMÍLIAS DESAMPARADAS
Um ano e quatro meses depois da catástrofe, a reportagem do Maior Portal do Piauí encontrou famílias desamparadas, sem nenhuma assistência do poder público. Os povoados ainda não tinham restabelecido a água encanada, energia elétrica, abastecimento de alimentos, a agricultura familiar ainda não tinha se reestruturado, ou seja, as famílias ainda viviam à sorte do destino. Foi então que começaram outros questionamentos. Após a tragédia, o governo do estado recebeu cerca de R$ 125 milhões em recursos para a reconstrução das cidades devastadas. Mas quase nada deste dinheiro parece ter sido investido. Apenas as famílias que tiveram perda total foram cadastradas para receber uma casa construída pelo poder público. Mas muita gente que também perdeu muito não teve nenhuma forma de benefício.

(Arquivo)
MÃE DIZ QUE CONVERSA COM AS FILHAS MORTAS
Um caso que tem chamado a atenção de todos em Cocal é de dona Maria de Fátima Pereira. Ela perdeu as duas filhas, Maria Alessandra de 16 anos e Francisca Maria de 11. Dona Maria de Fátima foi uma das beneficiadas com uma casa nos assentamentos construídos pelo governo do estado para as famílias atingidas. Ela é moradora do assentamento Agrovila do Jacaré. Não consegue esquecer o que aconteceu com as filhas e sofre com a falta de atenção por parte dos órgãos públicos. “Olha, apesar de eu ter perdido minhas filhas todo dia eu converso com elas. É verdade! Eu olho par as fotos delas e começo a conversar. Eu tenho certeza que elas estão aqui, olhando para nós, protegendo.. (choro)”. Dona Maria de Fátima, no dia do estouro da barragem Algodões, em Cocal, demonstrou a sua revolta com os engenheiros pagos pelo Governo do Estado em um vídeo publicado aqui no 180graus e que se espalhou pela Internet.

Maria de Fátima confirma que conversa com as filhas (Arquivo)
INDENIZAÇÃO
Um ano depois da tragédia foi aprovado pelo governo o pagamento de uma indenização às vítimas de Algodões I. São cerca de R$ 56 mil liberados para as famílias. Os valores estabelecidos são de R$ 58 reais por família, R$ 60 para cada adulto e ainda mais R$ 30 para cada criança. Porem, das mais de 1000 famílias que necessitam de ajuda, apenas 219 recebem o benefício. “Antes nós tínhamos toda uma estrutura, e hoje elas nos foram tiradas. Nós pedimos principalmente uma solução em torno das pensões. São 1.035 famílias que necessitam delas, juntando Cocal e Buriti dos Lopes. Atualmente, apenas 200 famílias recebem essas pensões”, disse o presidente da Associação dos Moradores Vítimas de Cocal, Corsino Medeiros.

"Precisamos de ajuda", afirma Corsino
PROTESTO E SESSÃO NA ALEPI LEMBRA 2 ANOS DA TRAGÉDIA
Nesta quinta-feira (26/05), a Assembleia Legislativa do Piauí realizou sessão solene em homenagem às vítimas de Algodões I. Com presença forte da oposição, o governo foi questionado pela falta de celeridade do poder público. Todos se perguntam onde estão os recursos enviados pelo governo Federal. Onde está o dinheiro das indenizações e várias outras perguntas que poderão jamais ser respondidas. As vítimas vieram até Teresina e fizeram passeada pelas ruas da cidade com faixas e cruzes representando os mortos da tragédia.

Vítimas vieram de Cocal e tomaram a Alepi
ALGODÕES I SERÁ RECONSTRUÍDA
O prefeito de Cocal, Fernando Sales confirmou que a Barragem Algodões deve ser reconstruída e que o Governo do Estado já sinalizou positivamente para a obra. O presidente da comissão que representa as famílias vítimas de Algodões, Corsino Medeiros, disse que as famílias esperam a reconstrução. 'Mas é preciso que seja construída com segurança, que haja fiscalização e que seja feita com padrões técnicos modernos', disse, destacando que no ano passado já foi encaminhado documento reivindicando a construção da barragem.

DOIS ANOS DEPOIS
A enorme fissura aberta após o rompimento da barragem continua lá. Passar pelos locais atingidos é voltar em um filme que para muitos é de terror, mas também de esperança. São centenas de famílias que lutam para afastar de vez da memória as cenas que mudaram a vida e a história do Piauí. Por parte do governo do Estado, muito foi prometido e pouca coisa foi cumprida. As famílias pedem, imploram por apoio, mas quanto mais o tempo passa, mas elas vão sendo esquecidas. Mas com essa matéria, o 180graus espera justamente que estas pessoas não sejam esquecidas jamais e que enfim sejam no mínimo ressarcidas por um acidente que poderia muito bem ser evitado.

Famílias querem aliviar de vez a dor da tragédia
mas o gorveno ainda não resolveu o problema tão facil de se resolvido da casa para as familias e a recontrução da barragens para ser um satuario pelas vidas de tantas pessoa que a tragedia deixou saudades sofrimento as familiares

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