Considerada sagrada, fibra extraída da flor oriental será usada pela Loro Piana em jaquetas feitas sob medida
Às margens do lago Inle, em Myanmar, entre os meses de maio e dezembro, uma pequena comunidade de artesãos colhe, há milhares de anos, as flores de lótus que darão vida à fibra sagrada que veste monges budistas e decoram imagens de Buda nos pagodes do país.
Obtida pela junção dos filamentos de três a cinco caules friccionados e fiados à mão - que precisam ser lavados, secos e tecidos em até 24 horas após a extração, para prevenir sua deterioração – a fibra rara e exclusiva acaba de ser incorporada ao rol de tecidos nobres oferecidos pela prestigiosa marca italiana Loro Piana.
A novidade foi apresentada a Pier Luigi Loro Piana, presidente da empresa fundada por sua família em 1924, por um amigo vindo do Japão, que certo dia lhe trouxe uma amostra do que parecia ser uma mistura de linho e seda, rústica e ao mesmo tempo macia.
Ao microscópio, as fibras de Nelumbo Nucifera formavam uma trama irregular cheia de microfuros, dando origem a um tecido leve, não tão quente quanto a cashemira, que mal amassava e, além de tudo, repelia manchas. Afinal, que milagre sobrenatural era aquele?
Vendo mundos em grãos de areia (como escreveu o poeta William Blake), o executivo acostumado a viajar da Austrália aos Himalaias em busca das melhores “safras” de tecidos foi a Myanmar conferir como era possível fazer, a partir do lótus (planta aquática de flores brancas e rosadas), tecidos que satisfariam os desejos de seus clientes: homens e mulheres que apreciam qualidade genuína, com discreta e sofisticada elegância.
Foto: Divulgação
Friccionados com cuidado, os filamentos de três a cinco caules são fiados à mão
“A flor de lótus dá uma extraordinária fibra aquática que eu definiria como Summer Vicuna por sua exclusividade. Hoje, a quantidade é realmente muito limitada, mas nós esperamos que nosso projeto cresça a longo prazo e permita que os produtores possam melhorar sua qualidade de vida em harmonia com o ambiente”, afirma Piana. Com esse compromisso, os filhos do lago - como são chamados os nativos Inthi - são incentivados a preservar suas raízes através de seu próprio trabalho.
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